terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

E quando o funcionário mente?

Em primeiro lugar, no topo deste texto, quero deixar claro que o sentido de funcionário é para toda a empresa, incluindo presidencia, diretoria e gerencia.

Sabemos que a mentira deriva de um ambiente onde a confiança está baixa ou sequer existe. Sabemos também que é uma característica existente no ser humano e até em outros animais. Nosso cérebro sente um certo prazer, pois ele é desafiado. Inclusive, seu cérebro mente para você várias vezes por dia.

Vamos refletir sobre agentes exteriores que contribuem para a propagação da mentira de uma corporação.

O primeiro agente, na minha visão, é a forma como é planejada e executada a distribuição de bônus. Da forma como é feita hoje em dia, (1) prejudica os relacionamentos internos; (2) prejudica a eficiencia da corporação, ao contrário do pensamento comum; (3) fomenta a competição nociva, em detrimento da colaboração; (4) favorece um ambiente fértil para a mentira. Existem outros.

O objetivo deste post é ser curto e não focar nestes quatro fatores que destaquei. Se surgir alguma dúvida sobre o parágrafo anterior, sinta-se a vontade para debatermos nos comentários.

Um segundo agente, já deixei uma pista, é o ambiente hostil à fomentação da confiança. Vários fatores contribuem para isso, (1) Cobranças públicas; (2) Prazos apertados; (3) Falta de visibilidade, dentre outros.

Mais uma vez, o foco não é esse. Deixo os comentários a disposição para um bate papo sobre isso.

A introdução foi longa por estarmos tratando de um assunto delicado. As pessoas não metem porque são más. Bem, algumas sim.

***

Uma máxima da gestão moderna é que você não melhora o que você não vê. Gestão moderna que está aí desde a decada de 70, pelo menos, com Demming, Ohno, Drucker e CIA.

Mas ver, de forma cristalina, todos os processos da sua empresa, detalhados em números, pode entrar em choque com uma necessidade de grande parte da empresa: mentir.

Sabemos como resolver o problema do ambiente nocivo à confiança, mas mais uma vez não é o foco aqui.

Como ver e mentir?

Através de números relativos. Ao relativizar você não mexe com um assunto delicado pré-existente. Lembre-se que o sistema é elástico. Ao introduzir um agente de mudanças, estamos gerando uma pressão interna. Precisamos de habilidade para lidar com essa propriedade elástica.

Boa parte da comunidade lean, sabe que a criação de um ambiente de confiança é fundamental para o aumento da eficiência. Entretanto, sabe que é muito importante medir. Se você não consegue introduzir mudanças, meça. Eu acredito muito nessa linha de pensamento.

Mas ao medir, você pode expor números e entrar em choque com muita gente. Se a sua empresa não está pronta para ver esses números, torne-os relativos.

Ex: Quando fizemos a mudança XPTO, reduzimos em X% a quantidade de bugs em produção. Reduzimos em Y% o leadtime médio. Z% das funcionalidades não retornaram para desenvolvimento. W% do nosso tempo agora é usado criando valor direto para o cliente.

É uma solução simples que pode salvar a aprovação de um trabalho que pode fazer toda a diferença para a saúde da empresa. Não apenas a saúde financeira, mas a saúde do organismo empresa.

E é uma abordagem natural para a maioria das empresas, que estão acostumadas a ver o seu retrato através das porcentagens.

Baseado nos processos de transição que eu vi acontecer, se eu tivesse que escolher uma ação indispensável, esta seria a metrificação. Metrificação de aspectos que ajudem a empresa a melhorar, evoluir. Alguns exemplos são o leadtime, throughput, takt time, touch time. Estes são números que, se melhorados, ajudarão a empresa a aumentar a eficiência. Ajudarão a empresa a poupar dinheiro.

Utilize métricas sempre, procure métricas do passado. Se o ambiente for hostil à metrificação, encontre uma forma de contornar e jogar com as resistências.

Afinal, essa não seria a maior qualidade de uma agente de transição?