quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Especialistas não servem para transição

O Kanban parece estar se direcionando para outra estrada que considero perigosa: os níveis de maturidade/profundidade no sistema. O perigo nessa abordagem reside, na minha visão, na facilitação para o aparecimento do xiitismo, além de ter pouca eficiencia. Mas isso é assunto para outro dia.

É interessante termos especialistas, como sempre foi interessante em todas as áreas e em todos os tempos. O problema é que esse tipo de mindset simplesmente não serve para uma transição. Disso estou convencido.

Vamos inicialmente deixar claro quem estou chamando de generalistas, especialistas e o que é essa transição.
  • Generalistas: Pessoas que conhecem diversos métodos/sistemas/processos/frameworks para desenvolvimento de software ágil, saindo do waterfall que teve a sua importância na sua época, mas que hoje é reconhecidamente ultrapassado e ineficiente;
  • Especialistas: Pessoas que conhecem apenas um método/sistema/processo/framework para desenvolvimento de software ágil;
  • Transição: Processo onde uma empresa quer mudar do waterfall para outra forma mais eficiente de desenvolvimento de softwares, comumente próximo do Lean.

Quando começo um trabalho de change agent em uma empresa, um dos maiores princípios da abordagem dos sistemas complexos, norteia as minhas ações: observar como o sistema se comporta para então sugerir mudanças. Esse "detalhe" é tão importante que pode significar o sucesso ou o fracasso de uma transição. Precisamos entender que o sistema está acostumado a se comportar daquela forma. As pessoas estão acostumadas a se comportarem daquela forma. Uma ruptura imediata, vai gerar stress no sistema. Uma transição já gera stress demasiado e não precisamos de change agents gerando mais stress. Na verdade, o papel dessa figura é justamente aliviar a tensão que toda a mudança naturalmente gera. 

O sistema é elástico, está sofrendo tensão e está ansioso para voltar ao seu estado inicial. Se tentarmos gerar uma ruptura logo de início, vamos obter como resposta uma resistência (natural) e a tendencia é de tudo voltar a ser como era antes. Entretanto, se tentarmos a abordagem do sapo fervido, temos uma chance muito maior de que a ruptura aconteça sem o sistema perceber. E o melhor: com as pessoas que antes eram resistentes, vendendo as novas idéias como se fossem delas.

Isso quer dizer que não precisamos mais de especialistas no mundo? Não, precisamos de especialistas. Mas especialistas não podem atuar como change agents. Os especialistas não terão independência suficiente das suas especialidades para se afastar do sistema (como nos afastamos de um desenho ou quadro) e buscar a melhor opção. Em uma transição, os generalistas chegam primeiro e os especialistas depois.

Entretanto, neste contexto, os generalistas precisam ser especialistas em uma área de atuação: o pensamento sistêmico e sua derivação, os sistemas complexos. Esse cara precisa saber como analisar o comportamento do sistema e que tipo de mudança será mais eficiente e gerará menos impacto. A consolidação dessas pequenas mudanças e, principalmente, os seus resultados, serão responsáveis por fortalecer o processo de transição e dará aos responsáveis estratégicos da empresa a percepção de que esse processo está indo no caminho certo.

Estou convencido que esse mindset contribui sobremaneira para a implantação dos princípios do Lean, com uma cadência adequada ao contexto, sem rupturas bruscas que poderiam levar uma grande empresa a falência.